Existe algum estudo que compara o desempenho do boi que bebe água tratada, na pilheta, com o do animal que consome direto do açude? O telespectador Marçal Dias, de Macapá, capital do Amapá, enviou seu questionamento para o Giro do Boi Responde que foi ao ar nesta sexta, dia 08.
O criador foi atendido por Fernando Loureiro, médico veterinário especialista no assunto.
“Eu venho apresentar hoje para vocês um trabalho que foi feito no ano de 2003, em Alberta, no Canadá, pelo pesquisador Walter Willms. O Walter é professor na Universidade de Alberta e eles fizeram esse trabalho com alunos de mestrado durante três anos. Durante três anos eles repetiram várias vezes o mesmo experimento, o mesmo estudo para poder acompanhar em diferentes épocas do ano, estações do ano, com animais de categorias diferentes (vacas, bezerros e garrotes), trocando os bovinos que iam para o açude, depois para o bebedouro artificial, depois retornando ao açude assim sucessivamente”, introduziu Fernando.
“E ele comparou o uso de aguadas naturais, os açudes, e o uso da água já servida em bebedouros, ou seja, a água do açude levada para uma pilheta em que os animais não têm acesso para entrar”, completou.
Fernando revelou então que o estudo descobriu que em todas as categorias, o ganho de peso médio diário dos animais saltou 0,5 libra, ou cerca de 225 gramas, quando a água consumida vinha da pilheta e não da aguada natural.
“Aqui a gente compara o desempenho de gado de peso médio diário, que é um dos índices zootécnicos mais importantes para ser medido na fazenda. O primeiro grupo avaliado foi de vacas paridas, vacas com bezerro ao pé, o segundo grupo foi de bezerros desmamados, o terceiro foram já novilhos na fase de sobreano, acima de ano, chegando aos dois anos. Todos foram avaliados somente com uso de água de açude, os animais se serviam à vontade no açude. Aqui a gente vê que as vacas tiveram um desempenho de 0, ou seja, de mantença, não tiveram ganho de peso. Os bezerros tiveram ganho d 1,8 libra (815 gramas) […] e os novilhos tiveram 2,1 libras de ganho (950 gramas)”, quantificou.
“No bebedouro, as vacas obtiveram um ganho de 0,5 libra, ou 225 gramas. […] Os bezerros desmamados ganharam 2,3 libras a mais (pouco mais de 1 kg). […] E os garrotes 2,7 libras a mais (1,225 kg). Então a gente considera para efeito de estudo, nas três categorias, 0,5 libra ou 225 gramas de diferença de desempenho por estar usando a água tratada de bebedouro”, confirmou.
O especialista revelou qual o motivo do desempenho superior nos animais que beberam a água da pilheta. “Por que dá esse ganho a mais? A primeira questão é que os animais não entram lá dentro do bebedouro com frequência como entram no açude. A cada vez que os animais vão ao açude, eles adentram o açude, revolvendo todo o fundo, levantando o lodo, lama, esterco dos animais, carcaças de animais silvestres mortos lá dentro. Com tudo isso aumenta o risco retratado naquele ditado popular – o boi lerdo bebe água suja. Os primeiros animais que chegam vão bebendo aquela água limpa. Os animais que chegam (no açude) do meio para o fim, já bebem essa lama, esse barro que foi levantado do fundo do açude”, explicou.
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“Já no bebedouro artificial isso não ocorre”, acrescentou. O veterinário disse que o consumo espontâneo de água tem relação direta com o consumo de alimentos. “É uma grande vantagem que impacta diretamente no ganho de peso. Os animais bebendo uma água mais limpa vão beber mais água espontaneamente e isso induz a consumir mais alimentos, maior consumo de matéria seca, seja ela no pasto, seja ela no volumoso ofertado em forma de feno ou de silagem e também das rações, do concentrado, do proteinado, do suplemento no cocho. Por isso os animais têm um desempenho superior, como a gente vê aqui (no estudo)”, reforçou.
Loureiro traduziu as contas também para o desempenho financeiro da atividade. “A importância está aqui: o uso da água tratada em bebedouro significou um ganho de peso adicional de 225 gramas por animal, o que foi avaliado nesse estudo durante três anos em várias repetições com três categorias diferentes. Vacas, bezerros desmamados e garrotes de sobreano. Isso representa, para cada 100 animais, 8.212 quilos no ano. Ou seja, 365 dias ganhando 225 gramas a mais por dia, a gente está falando em 82,12 kg (por cabeça). […] Isso numa arroba média de R$ 260,00 traz para a fazenda um ganho adicional, ou seja, um lucro de R$ 71.170,00 a cada 100 animais. Se são 1.000 animais na propriedade, já seriam R$ 711.000”, projetou.
“Então isso pode acontecer do Norte ao Sul do País, em todas as fazendas – de maior ou menor porte. Fazendas que só fazem cria têm esse ganho nas vacas e bezerros, fazendas que fazem a recria de bezerros têm esse ganho e fazendas de ciclo completo vão observar esse ganho que é bastante significativo e vai trazer um incremento de produtividade, principal, de faturamento, de lucratividade para a fazenda”, finalizou